f a flor com espinhos

01 abril 2017

Sobre fazer o que não se ama na faculdade



Desde criança eu sempre sonhei em ser professora. Aos onze anos, tive certeza disto. Sempre amei escrever e a literatura sempre confortara o meu espírito ansioso. No nono ano do ensino fundamental tive um professor de português que além da matéria, também nos dava aulas de arte. Eu amava, era apaixonada, tanto que nem devolvi o livro daquele ano, pois o devorava em casa e aos onze anos já continha conteúdos eruditos e uma maturidade cultural que muitos levam uma vida para construir. Lia Machado de Assis por amor, e não por obrigação imposta pelos vestibulares. Nasci poeta, amando a arte de harmonizar as palavras e acrescentar beleza nesta harmonia. 
Durante os três anos do ensino médio eu tinha a certeza do que queria para o resto da vida: Letras.
Certeza absoluta. Pelo menos até o dia em que me inscrevi para o vestibular. Apesar de sempre ter sido estudiosa, eu não gostava da escola, sinceramente. Talvez por ter estudado a vida inteira em escola pública, me sentira injustiçada, pois sempre sentia falta de um algo a mais, de uma didática e qualidade melhor de ensino. Me sentia impotente. 

Eu me formei no ensino médio com tanta mágoa, por tudo!
Tive bons professores sim, e os guardo em meu coração, mas apenas isto não bastava. Eu sempre quis mais. A mágoa me possuiu tanto que no momento em que me inscrevi para o vestibular, troquei meu sonho pelo curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Todos que me conheciam e sabiam do meu sonho de me formar em Letras ficaram surpresos e ainda ficam. Eu também fiquei.

Sinceramente, eu nem sabia do que se tratava o meu novo curso. Para mim, era algo relacionado à programação web que eu sempre gostei muito, por causa do meu blog. Ou talvez, imaginava que gostava, porque nem para isto eu ligo mais. No primeiro dia de aula eu pensei em pedir transferência para Letras, mas todas as vezes em que me lembrava da escola, eu voltava, com medo.

Foi um ano bacana, apesar de tudo. Aprendi algoritmos e construí uma base sólida de conhecimento da tecnologia: A sua história, a base da programação de computadores e a consciência crítica ao avaliar profissionais atuantes.

Aprendi que o "carinha do computador" que o formata e até o desmonta não é nada além de um técnico ou de uma pessoa curiosa, e que isto não é ser um profissional da tecnologia. Aprendi que gostar de editar vídeos e imagens não é um atributo de programadores, mas de pessoas comuns, de qualquer profissão. Vídeos de design e cursinhos online estão por aí, no youtube, acessível à todos. Não é preciso uma faculdade para trabalhar com PhotoShop ou qualquer programa já existente.

Um curso de tecnologia é para desenvolver estes softwares que usamos, e raramente utilizá-los, porque de tanto lidar com isto, tomamos nojo de computadores, acredite. Aprendi que tudo o que sempre fiz foi só alterar códigos e que programador web é um termo errado de se empregar, porque HTML não é linguagem de programação ( não dou risada quando vejo pessoas cometendo este equívoco porque já fui uma delas ). 

Aprendi que a lógica de programação de algoritmos é a base para toda e qualquer linguagem de programação, e que mesmo eu trancando o meu curso, a levarei comigo, para todo o sempre. Hoje, se eu decidir aprender qualquer outra linguagem sozinha, serei bem mais capaz, devido à minha base sólida. Aprendi conceitos básicos de robótica e sim, se eu quiser, crio um robô. Tive ideias de projetos mirabolantes utilizando arduíno e mesmo sem a faculdade, pretendo colocá-las em prática e levá-las para iniciações científicas de institutos sozinha mesmo, sem coordenador.  

Tirei notas excelentes e algumas reprovas, porque sou uma humana. Devo admitir que na faculdade eu descobri que posso fazer qualquer coisa, mas que mesmo sendo boa em todas elas, jamais serei feliz se nenhuma destas coisas for algo que eu realmente amo. E foi assim. Tive uma base muito boa em matemática básica e aprendi tanto que jamais quero voltar a ser ruim com cálculos. Claro que não sou Einstein, mas descobri que quando me esforço, sou capaz de ser boa e alcançar o mesmo nível das pessoas que já possuem esta facilidade. A mente é nossa.

Na escola, eu me considerava ruim em exatas, mas no meu curso, descobri que nunca fora. Como eu citei anteriormente, a escola me machucou muito e eu não exerci todo o meu potencial enquanto estudei nela. 

Na faculdade, também descobri que em TODOS os cursos sempre vão existir pessoas burras e pessoas muito inteligentes e que o curso que uma pessoa escolhe fazer JAMAIS pode ser utilizado para medir o seu grau de inteligência. Porque acredite, vi muitas pessoas burras tirando mais nota do que eu e não é ofensivo dizer isto, porque é a realidade. O importante, acima de tudo, é compreender a matéria. E não adianta decorar matéria e tirar dez pontos em uma prova, ultrapassando aquele que estuda, compreende a matéria e sabe responder qualquer coisa oralmente mas tirou sete pontos ( no caso, eu algumas vezes ).

Foi legal? Sim e não.

O que mais gostei foi de conhecer este universo lindo da tecnologia e descobrir que eu realmente gosto sim. Tive ideias de projetos e até lancei um este ano que seria a minha iniciação científica se eu não tivesse trancado o curso. Ainda pretendo desenvolvê-lo, mas sem vínculo com instituição. Já estava até pensando no meu TCC e até iria enviar um projeto para um congresso através do meu professor de estrutura de dados, que devo dizer que é o melhor professor deste ano. Também já estava pensando no meu mestrado, e queria na área da saúde, porque achei incrível a ideia de poder trabalhar com pesquisadores de curas de doenças através de algoritmos. Eu estava amando a matéria de redes de computadores e achando linda a ideia de poder explodir um computador só com o conhecimento de protocolos. 

Sabe porque estes celulares estão explodindo? Eu sei. É porque foram fabricados para suportarem menos do que podem ser carregados. Não aguentam e explodem. É um erro de fabricação ou uma invasão de sistema. Isto pode acontecer com máquinas de lavar roupas, sua geladeira, computador e qualquer outro dispositivo que precisou ser programado e possui um endereço de IP. Cuidado com pessoas maldosas e jamais prejudique um profissional de redes, em! 

Tem como ele tirar o seu acesso de internet se o endereço de sua máquina for da China e nem sempre o problema da sua internet ter caído é da empresa, mas seu. Não brigue com o carinha que trabalha para a empresa sem antes saber o que aconteceu.


Mas vamos ao que importa:


Eu conseguiria realizar todas estas coisas que eu queria? Sim.

Mas eu AMAVA de paixão o meu curso? Não.

Sempre que eu conversava com estudantes de outros cursos e os via com o brilho no olhar eu pensava em Letras e me continha. Eu não amava o meu curso, nunca o amara, mas aprendi a gostar. Tanto que continuo estudando algumas matérias de programação e os sites de notícias sobre tecnologia continuam salvos em meu navegador. Se tornou um hábito meu. Mas compreendo que sou uma formiguinha e que não sei nada comparado ao que um profissional precisa saber. 

Ainda quero ir na Campus Party e ver pessoas do mundo inteiro no melhor evento de tecnologia que o nosso país organiza. Durante o curso, me interessei por astronomia e até hoje leio à respeito, arrisco em alguns cálculos de inclinação solar e me divirto estudando os vários conceitos que se tornam poucos comparados ao que a ciência é. 

Hoje, já não me surpreendo ao ver jovens desenvolvendo robôs, porque eu também posso fazer um. A faculdade ampliou muito o meu conhecimento de mundo, mas por outro lado, me privou dele. 

Estudar em uma instituição privada pode possuir seus lados positivos, mas possui muitos negativos também. Se for uma faculdade pequena, como a que estudei, geralmente os professores são ex alunos mantidos pela instituição simplesmente por afinidade e simpatia às "pessoas" e não aos "profissionais". Este mês, fiz uma prova de quatro questões valendo 10 pontos e apenas UM código não rodou porque fiquei um pouco nervosa, mas a minha lógica em si, poderia ser considerada. 

Eu fiz uma estimativa e dividi os 10 pontos pela quantidade de questões, no caso, 4. Eu devia ter tirado pelo menos uma nota de 7,5 pontos, mas ao pegar a minha prova, havia tirado 6,4. Não entendi aquilo e o professor disse que havia comentado todos os códigos de todas as questões e que nestes comentários mencionara os erros. Cheguei em casa e ao verificar meus códigos, percebi que o professor não havia os comentado. A prova era em dupla, mas eu fiz sozinha. 

Fiquei indignada, pois apenas a MINHA prova não havia sido comentada e apenas UM programa não rodou. Os demais, fiz com certeza e estavam perfeitos. Eu podia argumentar, porque estudara bastante. Sabe o que o professor me respondeu? "Vamos conversar amanhã!".

Fui à faculdade naquele dia e ele estava lá? Não estava. 

Aquilo foi a gota d'água. Não suportava mais tanta injustiça e tratamento diferenciado entre os alunos. Os professores daquela instituição são assim: Voltados ao lado pessoal e pouco profissionais. 

E eu pensando que na faculdade esta mania de bajular alunos irresponsáveis e que não querem nada com a vida iria acabar. Pensei que na faculdade a meritocracia valesse. Mas ali, pelo menos, não valeu. Perdeu totalmente o meu crédito, todos ali. Não incluo "todos" os professores porque existem sim, professores muito bons ali e que tentam ser diferentes, mas a maioria pelo menos, é falha e sem entendimento do que faz como professor, apesar de possuírem várias pós graduações. E eu quero saber das pós graduações da pessoa ? O que importa não é saber transmitir o conhecimento aos seus alunos? Senão, por que escolher dar aulas? Vá procurar emprego em uma empresa de tecnologia e exercer a profissão!

Não fora apenas com este professor, mas os trabalhos apresentados em grupo na sala eram geralmente fracos. Eu sempre me empenhei MUITO para apresentá-los, de verdade. Estudava por semanas o conteúdo e ensaiava o tempo de apresentação. Eu era um peso para trabalhar em equipe, por causa desta chatice que é só minha, compreendo, mas meus trabalhos em frente à todos sempre foram perfeitos. Tanto que com quem eu fazia inimizade, depois só mantinha espaço para respeito e admiração, porque reconhecia que eu estava certa e de que era chata pensando em todos nós, no bem do grupo.

Mas havia grupos que mal estudavam ( era perceptível! ) , não tinham postura em frente à turma e que vergonha, em uma faculdade não saber apresentar trabalho direito! 

E adivinha! O professor sempre fazia questão de tirar um ponto do meu grupo e dava pontuação máxima para estes grupos. Isto quando eu não fechava a prova e precisava ver um 9 por causa de uma palavra diferente que usava na resposta. Era só pelo prazer de não me garantir um dez? 

O que mais me irritava era a minha turma, que ao perceber TODO o desleixo por parte dos professores, mantinha-se calada, imóvel. Haja paciência com tamanho conformismo!

No primeiro ano eu não reclamei porque sinceramente o primeiro ano não quer dizer nada e a gente não sabe de nada mesmo. São calouros no mundo da Lua, literalmente!

Mas a partir deste ano, comecei a notar mais, talvez pelo fato de estar encarnando verdadeiramente o perfil profissional de uma Analista de Sistemas e desenvolvendo este senso crítico. Me cansei de ser imóvel e comecei a denunciar estes erros. Os alunos da minha turma os percebiam também, mas claro que não ficavam do meu lado. E o medo de ser marcado pelo professor? Vi muita hipocrisia ali. 

Não é muito mais simples juntar uma turma inteira e questionar as atitudes de um professor? Por que eu tinha que fazer tudo sozinha? 

Começaram a me isolar e me tratavam mal, ao ponto de nem me cumprimentarem na rua. Era, aliás, é desprezível esta atitude deles, porque eu não fiz nada além de enxergar os direitos da turma. Havia um rapaz, que ainda existe ( infelizmente ), que desde o primeiro ano implicava comigo, dizendo que eu era incapaz e coisas do tipo. Eu o odeio e ele também me odeia, mas eu tenho motivos e ele não. Era insuportável aquela implicância toda, pois chegava a ser ofensivo e humilhante, agressivo!

Eu não aguentei mais e o mandei ir à merda no privado pelo whatsapp. O coitado é tão covarde que tirou print e postou no grupo da turma, me colocando como  a agressora e ele como a vítima. Desde então, os idiotas sem personalidade ficaram do lado dele, comprando uma briga que nem deveria ter existido. Eu fazia perguntas, viravam a cara, eu queria conversar e me ignoravam e eu me sentia péssima. Chorava em casa todos os dias e fiquei totalmente desnorteada, arrasada, emocionalmente alterada e desequilibrada. 

O que mais me chateou, foi quando este mesmo rapaz me humilhou em frente à turma inteira ( eles começaram a fazer eu ficar calada, dando a entender que não suportavam sequer a minha voz ) e o professor ( coordenador do curso ) ao ver, não fez nada, nem olhou sério, simplesmente ignorou e começou a tratar o infeliz como se ele fosse o melhor. 

Eu estava sozinha. 

Sozinha.

Sozinha.


Se o próprio coordenador do curso aceitou aquilo, eu pensei: Vou me retirar.

Mas a burra aqui que vos escreve continuou insistindo. Até que não aguentei mais toda aquela humilhação e fui trancar meu curso, no dia  25 de março. Fui neste dia porque se entrasse o mês de abril, eu seria obrigada a pagar a mensalidade do mês mesmo sem frequentar as aulas. 

Sabe o que aconteceu? Precisei aguentar a irmã ( que de freira só tem a roupa ) me dizendo o que eu deveria fazer e que não podia trancar, que era para tentar conversar com o coordenador do curso primeiro. Eu disse que tudo bem, poderia repensar, mas naquele dia mesmo eu já assinei o termo de trancamento e só a pedi para que guardasse até eu me decidir. 

E eu me decidi. Retornei lá dia 30 deste mês e disse à ela que era oficial e para andar rápido, porque não quero pagar mensalidade em vão. Precisei brigar, porque ela JURAVA que sabia da minha vida e que eu ERA OBRIGADA a continuar lá só porque ela PENSA que eu vou ficar atoa. 

Eu disse que a decisão era minha e que ela tinha a obrigação de fazer o que eu estava mandando. Briguei mesmo. Ela disse que estava feito e que era só passar para o sistema.

Ela passou? Não.

Eu continuo tento acesso ao portal do aluno e continuo como aluna na instituição. O que mais me irrita é saber que eles fizeram isto com a intenção de receberem o pagamento do mês de abril e eu sinceramente estou com vontade de explodir aquele lugar. Porque eu tranquei oficialmente dia 25, pois foi a data que assinei de próprio punho. 

Eu ODEIO aquela instituição e não passa de uma lavagem de dinheiro. Me arrependo e ao mesmo tempo não me arrependo. Eu nunca devia ter mudado de ideia e devia ter cursado letras desde o início, mas perdi tempo fazendo algo que eu nem sabia do que se tratava.

Vou perder um ano, o que não vai ser tão grave porque fui adiantada na escola, mas é um ano. Que ódio!!!

Eu devia ter ouvido a minha intuição desde o início. Agora é estudar para conseguir uma boa nota no enem e ingressar em letras, em uma universidade bem longe daqui. E esquecer-me de tudo, virar as costas e ser feliz.  

25 fevereiro 2017

Porque você precisa assistir Morangos Silvestres

Há um lado magnífico da indústria cinematográfica pouco explorada pelos grandes prêmios do cinema e esquecida devido à passividade da sociedade contemporânea em absorver as produções Hollywoodianas. Dentre diversos exemplos, o filme sueco Morangos Silvestres (1957), escrito e dirigido por Ingmar Bergman, pode ser definido como um trabalho de percepção da vida de um homem através de sua mente. 


O filme Morangos Silvestres é indispensável em uma lista de filmes clássicos porque ele nos instiga à reflexão, simplesmente. Quando escolhemos não enfrentar nossas inquietudes internas e aceitar nossos próprios erros, as próprias circunstâncias da vida humana responsabilizam-se por este trabalho. Este é certamente o caso de Isak Borg Victor Sjöström ), um professor de medicina solitário que dirige com a sua nora Marianne ( Ingrid Thulin ) até Lund devido aos seus cinquenta anos de carreira. No caminho, ele relembra a sua juventude, a vida conturbada que teve com sua esposa e conhece diversas pessoas, dentre elas, um grupo de dois rapazes e uma garota que o faz lembrar-se de uma antiga paixão, além de um casal que o remete às lembranças de seu próprio casamento. 

Além do cenário, da fotografia em preto, do sueco bonito, dos atores que eram "figurinhas carimbadas" em outras produções de Bergman e das lembranças de Isak, que fizeram jus ao seu temor pela morte que se aproximava e remeteu às lembranças de "Um conto de Natal", o interessante do filme é justamente a forma como são empregados trechos incríveis de reflexões que merecem do cinéfilo o desejo de voltar determinadas partes apenas para poder relê-las muitas e muitas vezes. 




"Nossa relação com as pessoas consiste em discutir com elas e criticá-las. Foi isso que me afastou, por vontade própria, de toda minha vida social. Isso tornou minha velhice solitária. É possível que eu tenha ficado sentimental. Talvez estivesse cansado ou nostálgico, e me sentia um pouco triste. Foi então que percebi que pensava em coisas que estavam ligadas à minha infância. Não sei como isto aconteceu, mas a luz do dia clareou mais ainda as imagens das lembranças que passavam perante meus olhos com toda a força da realidade."  



"— Qual será a pena?
— Pena? A de sempre, creio.

 — A de sempre?

 — A solidão."

Devo admitir que os filmes de Bergman são em grande parte, depressivos. Não há outra palavra que defina melhor o sentimento que eles transmitem. Mas esta depressão é subjetiva e talvez dolorosa, pois ao contrário dos muitos filmes que nos fazem chorar, os filmes produzidos pelo cineasta nos fazem pensar. E pensar muitas vezes é bem mais dolorido do que debulhar-se em lágrimas!



Assista pelo Youtube ( legendado - português ):

@escritorabianca

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